terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Vicente Abate defende desenvolvimento do setor ferroviário e enfatiza: “Tem que ser um caminho sem volta”


Vicente Abate, presidente da ABIFER.
De acordo com Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), o momento pelo qual a indústria ferroviária passa hoje no Brasil é inédito, positivo e com amplo espaço para desenvolvimento: “Os investimentos na indústria ferroviária brasileira já vêm acontecendo há algum tempo, mas os anúncios vêm se acelerando. O programa de investimentos lançados pela presidente Dilma Rousseff no dia 15 de agosto, por exemplo, prevê um volume de investimentos no setor ferroviário que nós nunca tínhamos isto, sendo quase 70% do montante quase todo voltado para ele. Isso tudo vai repercutir na indústria, claro, mas não imediatamente”, acredita.
Para o executivo, esses investimentos devem contemplar a infraestrutura do setor por meio da melhoria dos aparelhos operacionais, de mudanças de via, grampos de fixação, construção de vagões e construções de vias: “Num primeiro momento, contemplará essas questões. Num passo seguinte, com a construção completa, a indústria entra com os próprios vagões e locomotivas, e quem sabe até carros de passageiros – que é uma das intenções do governo. Hoje isso ainda não acontece porque as vias são antigas e não dão velocidade comercial satisfatória para o transporte de passageiros. Com vias mais modernas, com menos curvas e rampas, a velocidade comercial será maior e aí é possível ter uma demanda, a médio prazo”, ressalta.
Apesar do anúncio do pacote, Abate enfatiza que as execuções dos projetos do setor já vinham acontecendo por conta do novo cenário econômico brasileiro: “Nós já temos algumas execuções ocorrendo, independentemente do novo plano. Tem algumas obras que foram contempladas por ele, como a Transnordestina, a continuidade da FerroNorte e também obras contempladas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como a continuidade da Norte-Sul, que vai de Anápolis até Estrela do Oeste”.
Segundo Abate, a diferença do setor ferroviário para os outros modais é que é um setor que num determinado momento tem um volume alto de cargas e num momento seguinte registra uma queda, sem que haja uma relação direta com o PIB, o que acaba se transformando numa vantagem: “Em 2009, tivemos uma recuperação rápida. O ano passado, por sua vez, foi o nosso melhor ano, quando movimentamos 354 mil toneladas de carga. A crise, seja na Europa ou nos Estados Unidos, reflete especialmente o setor de mineração e siderurgia, que são os grandes usuários da ferrovia.
Ainda de acordo com o executivo, a solidez da economia brasileira possibilitou uma mudança grande no perfil da fabricação de locomotivas nas últimas décadas: “Em 1990, registramos 0 de fabricação no País. Para essa década atual, no entanto, a previsão já é de 40 mil vagões, o que representa um crescimento de 30% em comparação à melhor década da indústria ferroviária brasileira, que foi 1970. Isso mostra uma forte sinalização dos governos (Estadual, federal, municipal), mostra que estão preocupados com o setor”, enfatiza.
Vicente Abate também tocou na questão da horizontalização da matriz de transportes e aposta no conceito como uma forma de alavancar a infraestrutura e a logística brasileiras: “Precisamos equilibrar essa matriz nos próximos 10 ou 15 anos para que tenhamos 35% do ferroviário, 30% do rodoviário e 30% do hidroviário, como já se foi mostrado que é tendência. Precisamos integrar os modais, promover essa integração entre eles e essa integração, embora cada vez mais regulada, ainda tem aparas a serem feitas. O transporte multimodal reduz o custo Brasil”, explica.
Para o executivo, os últimos dois governos se empenharam para o fomento da melhoria na infraestrutura e no modal ferroviário: “Essa realmente é uma ação dos dois últimos governos. O governo FHC também fez a sua parte ao tentar recuperar o setor ferroviário. Se não tivesse feito isso, teríamos, certamente, perdido de vez o setor. Agora, com essas melhorias que foram feitas até agora, não há mais volta. Já há a necessidade de termos uma boa infraestrutura no País. Na década de 1970 o que havia era investimentos com relação ao crescimento do PIB e ao desenvolvimento da indústria. Na época, tínhamos cerca de 2% de investimentos em transportes. Na duas últimas décadas, essa porcentagem caiu para quase zero e agora estão na base de 1%. Se tivermos um governo, no futuro, que não pense nisso, será prejudicial. Os programas agora deverão ser mantidos em curso”, acredita.
Se não há volta para um cenário de marasmo, o Brasil aproveita para se inspira nos grandes países em desenvolvimento, como a China: “Enquanto investimentos 1% do nosso PIB em infraestrutura, Rússia e China investem 5% do PIB em tansporte. É uma grande diferença. De olho nessa comparação, os atuais governos não podem esquecer desse planejamento, isso tem que aumentar. E, além de aumentar, tem que acelerar, lidando com a alta burocracia, especialmente na obtenção de licenças ambientais, que é um fator, hoje, persistente nos atrasos dos investimentos. Nós não temos mais tempo para esperar o desenvolvimento”, ressalta.
Apesar de defender a integração dos modais, Abate enfatiza os benefícios do setor ferroviário e acredita que boa parte dos investimentos deveria ser voltado para ele: “Embora busquemos a integração – e isso é absolutamente saudável – o sistema ferroviário é inexorável. A volta desse setor não deve ter uma volta ao passado, por conta do retorno que ele é capaz de dar à economia brasileira e ao baixo custo de sua manutenção. A ideia, daqui para frente é só crescer, de forma que tenhamos um transporte seguro, econômico, menos poluente e mais rápido”, conclui.

Fonte: Guia Marítimo
Publicada em:: 07/01/2013

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