Vicente Abate, presidente da ABIFER. |
Para o executivo, esses investimentos devem contemplar a infraestrutura do setor por meio da melhoria dos aparelhos operacionais, de mudanças de via, grampos de fixação, construção de vagões e construções de vias: “Num primeiro momento, contemplará essas questões. Num passo seguinte, com a construção completa, a indústria entra com os próprios vagões e locomotivas, e quem sabe até carros de passageiros – que é uma das intenções do governo. Hoje isso ainda não acontece porque as vias são antigas e não dão velocidade comercial satisfatória para o transporte de passageiros. Com vias mais modernas, com menos curvas e rampas, a velocidade comercial será maior e aí é possível ter uma demanda, a médio prazo”, ressalta.
Apesar do anúncio do pacote, Abate enfatiza que as execuções dos projetos do setor já vinham acontecendo por conta do novo cenário econômico brasileiro: “Nós já temos algumas execuções ocorrendo, independentemente do novo plano. Tem algumas obras que foram contempladas por ele, como a Transnordestina, a continuidade da FerroNorte e também obras contempladas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como a continuidade da Norte-Sul, que vai de Anápolis até Estrela do Oeste”.
Segundo Abate, a diferença do setor ferroviário para os outros modais é que é um setor que num determinado momento tem um volume alto de cargas e num momento seguinte registra uma queda, sem que haja uma relação direta com o PIB, o que acaba se transformando numa vantagem: “Em 2009, tivemos uma recuperação rápida. O ano passado, por sua vez, foi o nosso melhor ano, quando movimentamos 354 mil toneladas de carga. A crise, seja na Europa ou nos Estados Unidos, reflete especialmente o setor de mineração e siderurgia, que são os grandes usuários da ferrovia.
Ainda de acordo com o executivo, a solidez da economia brasileira possibilitou uma mudança grande no perfil da fabricação de locomotivas nas últimas décadas: “Em 1990, registramos 0 de fabricação no País. Para essa década atual, no entanto, a previsão já é de 40 mil vagões, o que representa um crescimento de 30% em comparação à melhor década da indústria ferroviária brasileira, que foi 1970. Isso mostra uma forte sinalização dos governos (Estadual, federal, municipal), mostra que estão preocupados com o setor”, enfatiza.
Vicente Abate também tocou na questão da horizontalização da matriz de transportes e aposta no conceito como uma forma de alavancar a infraestrutura e a logística brasileiras: “Precisamos equilibrar essa matriz nos próximos 10 ou 15 anos para que tenhamos 35% do ferroviário, 30% do rodoviário e 30% do hidroviário, como já se foi mostrado que é tendência. Precisamos integrar os modais, promover essa integração entre eles e essa integração, embora cada vez mais regulada, ainda tem aparas a serem feitas. O transporte multimodal reduz o custo Brasil”, explica.
Para o executivo, os últimos dois governos se empenharam para o fomento da melhoria na infraestrutura e no modal ferroviário: “Essa realmente é uma ação dos dois últimos governos. O governo FHC também fez a sua parte ao tentar recuperar o setor ferroviário. Se não tivesse feito isso, teríamos, certamente, perdido de vez o setor. Agora, com essas melhorias que foram feitas até agora, não há mais volta. Já há a necessidade de termos uma boa infraestrutura no País. Na década de 1970 o que havia era investimentos com relação ao crescimento do PIB e ao desenvolvimento da indústria. Na época, tínhamos cerca de 2% de investimentos em transportes. Na duas últimas décadas, essa porcentagem caiu para quase zero e agora estão na base de 1%. Se tivermos um governo, no futuro, que não pense nisso, será prejudicial. Os programas agora deverão ser mantidos em curso”, acredita.
Se não há volta para um cenário de marasmo, o Brasil aproveita para se inspira nos grandes países em desenvolvimento, como a China: “Enquanto investimentos 1% do nosso PIB em infraestrutura, Rússia e China investem 5% do PIB em tansporte. É uma grande diferença. De olho nessa comparação, os atuais governos não podem esquecer desse planejamento, isso tem que aumentar. E, além de aumentar, tem que acelerar, lidando com a alta burocracia, especialmente na obtenção de licenças ambientais, que é um fator, hoje, persistente nos atrasos dos investimentos. Nós não temos mais tempo para esperar o desenvolvimento”, ressalta.
Apesar de defender a integração dos modais, Abate enfatiza os benefícios do setor ferroviário e acredita que boa parte dos investimentos deveria ser voltado para ele: “Embora busquemos a integração – e isso é absolutamente saudável – o sistema ferroviário é inexorável. A volta desse setor não deve ter uma volta ao passado, por conta do retorno que ele é capaz de dar à economia brasileira e ao baixo custo de sua manutenção. A ideia, daqui para frente é só crescer, de forma que tenhamos um transporte seguro, econômico, menos poluente e mais rápido”, conclui.
Fonte: Guia Marítimo
Publicada em:: 07/01/2013
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