06/07/2013 -
Diário do Nordeste
A corrida agora é contra o tempo. Faltam
apenas 11 meses para a Copa do Mundo de 2014 e as expectativas em torno das
obras de mobilidade urbana só crescem. Entretanto, conforme monitoramento
atualizado pela Secretária de Infraestrutura do Ceará (Seinfra) apenas 30% das
obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) estão concluídas. Um entrave, no
entanto, promete atrasar ainda mais os processos: só 1/4 das desapropriações
foi efetivada na Capital (553 de um total 2.185 previstas) e 75% seguem
paradas.
Das dez estações previstas, uma segue,
porém, com trabalhos avançados. É a estação Vila União, na Av. Borges de Melo.
O vaivém de máquinas, os barulhos e as intervenções já mudam a paisagem e
deixam todos curiosos. Vendo da janela da casa toda essa movimentação, o
autônomo Alberto da Silva, 47, questiona: "mas, será que esse VLT vai
ficar pronto mesmo?". Assim como ele, maioria da cidade parece almejar
andar no modal.
A promessa da Seinfra é que a estação Vila
União seja a primeira a ser entregue, ainda neste ano. A estimativa é que todo
o trecho do Ramal Mucuripe-Parangaba do VLT esteja finalizado ainda no primeiro
semestre de 2014, a tempo dos jogos da Copa do Mundo em Fortaleza.
Dados mais atualizados da Seinfra apontam
que, hoje, seis estações (Antônio Sales, Mucuripe, Pontes Vieira, Parangaba,
Vila União e Iate) seguem ativas e apenas quatro (Montese, Rodoviária, São João
do Tauape e Papicu) estariam paradas.
O VLT cruzará 22 bairros de Fortaleza e
beneficiará cerca de 100 mil pessoas por dia quando em operação. Estão sendo
investidos R$ 276,9 milhões. São 20 frentes de obras em execução ao longo de
toda a linha Parangaba-Mucuripe.
Desapropriações
Obra alvo de polêmicas, uma questão segue
como entrave para o avanço: desapropriações. Muitos moradores se negam a sair
das suas casas, outros reclama da indenização com valores irrisórios, alguns
questionam o modo de negociação, a falta de diálogo. Enfim, o consenso, nesse
ponto, parece bem difícil.
Um exemplo é a situação de quem mora (ou
morava) na Rua Martins Sales, no Vila União. Parece que um furacão atravessou a
via, às margens da ferrovia: dezenas de casas demolidas, ao chão, e algumas
poucas em pé, fazendo a resistência, ainda na esperança de não serem retiradas
de lá. Atualmente, as remoções acontecem no Vila União e na Rua Germano Frank,
bairro da Parangaba. Das 559 negociações feitas, 553 renderam acordos e apenas
seis seguiram para processos judiciais.
O clima é de despedidas na família Teófilo,
no Vila União. Prova disso são as caixas de papelão espalhadas na varanda. Após
negociação, familiares arrumam as malas, irão deixar o bairro que há tanto
moram e já criaram raizes. O eletricista, José Wilson Teófilo, 56, não se
conforma com a partida. Não queria sair da comunidade, teme sentir saudades,
sofrer com a mudança. Vai ter que deixar o seu lar nesse fim de semana. O valor
pago teria sido pouco, injusto. "Não está sendo nada fácil para ninguém. É
difícil ver o bairro morrer assim de uma hora para outra, ver tudo se acabar
por conta das obras", afirma.
A maior tristeza de Wilson é deixar a casa
que ele mesmo ajudou ´a subir´. Logo agora que ele terminou de pagar as dívidas
existentes por conta da reforma, 67 parcelas de R$ 700. "No dia que quitei
minha casa, tive que me desfazer dela. Que triste". Ele até recebeu a
indenização, mas conta que não deu para comprar uma nova morada. Ficará
alojado, por enquanto, na casa de um dos filhos.
Denúncias
Se o senhor Wilson tem um rumo, outros
tantos parecem perdidos. É o caso da dona de casa Jeane Inácio, 34. Moradora da
rua Martins Sales, Vila União, ela diz não aguentar mais tanta pressão para a
sua retirada. Ela segue ´ilhada´, as duas construções vizinhas já foram
demolidas, sobra entulhos e temor sobre os próximos dias.
Segundo Jeane, técnicos lhe deram um prazo
de 15 dias para deixar a casa após recebimento da indenização. Ela denuncia as
ações de coerção que estão sendo feitas e narra que é comum a vinda de tratores
na região. "Daí, os homens gritam para gente sair, dizem que se a gente
não for embora eles passam as máquinas em cima. Um absurdo", diz.
Para Roger Pires, integrante do Comitê
Popular da Copa, mesmo após as volumosas e indignadas manifestações que
ocorreram na cidade, o governo do Estado não deu nenhuma resposta ao grito de
diversas pessoas que deixaram claro que são contra as remoções. "Lutamos
por remoções zero e não aceitamos essa intervenção nas comunidades tradicionais
ameaçadas em favor de obras de um evento da Fifa", afirma Pires.
Conforme nota enviada pela Seinfra, algumas
comunidades impediram que o trabalho fosse realizado, por não ter conhecimento
das mudanças ocorridas no projeto que reduziram consideravelmente o número de
desapropriações, como é o caso, por exemplo, da Estação Rodoviária que foi
mudada de local. "No projeto inicial mais de 300 imóveis seriam atingidos
e após a relocação da estação esse número caiu para, aproximadamente, 90
imóveis".
Conforme a nota, é preciso atentar que
estas desapropriações dependem da elaboração de laudos técnicos para que sejam
executadas. "Alguns desses estudos ainda não foram realizados por
impedimento de algumas comunidades. Os laudos técnicos são elaborados de acordo
com o projeto, obedecendo a mudanças que visem o menor impacto da população. De
antemão, pode-se afirmar que serão desapropriados os imóveis localizados às
margens da via férrea já existente e que tenham sido apontados como
imprescindíveis para a obra", explica a nota.
Saiba
mais
Na Estação Parangaba, que será elevada e
integrada ao terminal de ônibus, estão sendo realizados trabalhos de
concretagem dos pilares. Seguem em andamento as obras de implantação do elevado
da Parangaba, logo após a estação.
Na obra da Aguanambi, no bairro de Fátima,
no trecho situado ao lado do Comando da Polícia Militar, já foi concluído a
implantação das colunas e berços, faltando apenas a colocação das vigas de
concreto, já prontas no local.
Na Estação Iate, no Mucuripe, estão sendo
feitos os serviços de escavação, forma e armadura da fundação da estação,
escoramento metálico para contenção de aterro existente e concretagem da sapata
do equipamento.
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