28/08/2013 -
Valor Econômico
Com volume de
pedidos em baixa, a indústria ferroviária pede socorro ao governo federal nesta
semana para colocar em prática um plano de reforma geral de vagões e
locomotivas de carga no país. O plano envolve investimentos de R$ 6 bilhões nos
próximos anos - montante a ser liderado pelas concessionárias, com subsídios
públicos.
A iniciativa
nasceu da reclamação, vinda da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária
(Abifer), de que os pedidos de seus clientes - as concessionárias e outros
operadores ferroviários - são inconstantes. Quando a indústria cresce dois
dígitos em um ano, no período seguinte a produção pode recuar a níveis
inferiores aos registrados em 2006. Segundo Vicente Abate, presidente da
Abifer, os altos e baixos colocam a indústria em risco e elevam os custos de
produção.
A solução,
criada em parceria com a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários
(ANTF) - que representa as concessionárias - é pedir aval do governo para
reformar o patrimônio antigo herdado da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que
hoje é operado, mas que poderia ser modernizado. A ideia é usar esse material
para produzir 18 mil novos vagões e 600 novas locomotivas nos próximos seis
anos.
Para isso, a
ANTF vai pedir, entre outros itens, que ao menos parte do arrendamento que as
concessionárias pagam à União pelo direito à concessão - neste ano, por
exemplo, estimado em R$ 1,1 bilhão - seja empregado na renovação da frota. Além
disso, solicitará auxílios como a manutenção do Programa de Sustentação do
Investimento (PSI), do BNDES - que tem juros em 3,5% ao ano para compra de
máquinas e equipamentos no setor. Pelo menos até 2014. Também demandam que o
prazo de pagamento do financiamento seja aumentado de 10 para até 20 anos, e a
carência de 2 para 5 anos. E que vagões deteriorados sejam classificados como
sucata e usados como matéria-prima. A previsão é entregar o pedido amanhã ao
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Rodrigo Vilaça,
presidente da ANTF, defende que o plano ajudaria a indústria a manter um volume
constante de entregas nos próximos anos. "A situação é crítica, por isso a
iniciativa privada está se movimentando", diz. Para ele, fabricar material
rodante agora também ajudaria a antecipar a demanda que será criada com os 10
mil quilômetros de ferrovias previstos pelo governo federal para os próximos
anos.
"O plano
auxilia as concessionárias a ter uma frota de vagões e locomotivas modernizada,
e isso depois volta ao governo [quando a concessão acabar]", diz Abate,
representante dos fabricantes.
Enquanto o plano
ainda não é analisado, essa indústria demonstra preocupação em 2013. O caso que
mais chama a atenção é o da fabricante Randon, que não recebeu nenhuma
encomenda para o setor neste ano. "Fizemos os últimos vagões em março. De
lá pra cá, mais nenhum", diz Norberto José Fabris, diretor corporativo da
Randon. A situação da companhia só não é pior porque ela atua também em outros
mercados. Com a mesma estrutura em que fabrica vagões, consegue produzir
implementos rodoviários. "Se produzíssemos só vagões, estaríamos numa
situação complicada."
Na AmstedMaxion,
líder na produção de vagões, os números também estão abaixo do inicialmente
estimado. "Os dois últimos anos têm sido bastante abaixo daquilo que se
esperava", diz Ricardo Chuahy, presidente da AmstedMaxion. Ele diz que a
empresa não chega mais a demitir funcionários. "Se demitir, você precisa
procurar depois mão de obra qualificada de novo, investir em treinamento e
desenvolvimento. Então apesar de ser um custo grande, a gente opta por
manter", diz. Os executivos também reclamam do fato de as encomendas
acontecerem "aos solavancos". "A gente tem demandado que haja um
volume mais constante ao decorrer do tempo. Ter volume alto é bom, mas tem que
ser previsível", diz Chuahy.
A americana
Caterpillar investiu US$ 100 milhões nos últimos cinco anos na área ferroviária
no Brasil e abriu em novembro uma fábrica de locomotivas. Mas esperava números
mais exuberantes. "Podemos até investir mais, mas precisamos de uma
demanda no horizonte", resume Carlos Alberto Roso, diretor-geral da
Progress Rail, subsidiária da Caterpillar no Brasil.
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