28/07/2014 - Revista Engenharia Automotiva e Aeroespecial
Sinal verde para
os regionais
Após o sucateamento
quase completo da malha nacional e dos escassos investimentos em infraestrutura
nas últimas décadas, a indústria ferroviária brasileira aposta nos trens
regionais para impulsionar o desenvolvimento do setor de transportes sobre
trilhos no País. Para Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da
Indústria Ferroviária (Abifer), com o adiamento do projeto do Trem de Alta
Velocidade (TAV ou trem-bala) – que prevê ligar São Paulo ao Rio de Janeiro,
passando por Campinas (SP) –, o desafio da integração nacional pelas ferrovias
pode ser vencido de forma rápida e econômica com a implantação de linhas
regionais, o que permitiria, ainda, aumentar a capacidade do transporte de
carga. A expectativa da Abifer é de que o setor movimente anualmente cerca de
R$ 70 bilhões entre os próximos cinco e dez anos.
Dois exemplos
destes sistemas regionais são os projetos da Contrail, voltado ao setor de
logística, e do Trem Intercidades, destinado ao transporte de passageiros –
ambos previstos para entrar em operação nos próximos anos, em São Paulo, e
financiados por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Contrail: sinergia
sobre trilhos e asfalto
A Operadora de Transporte Multimodal de Contêineres S.A., a Contrail, foi estabelecida em 2010, resultante da parceria entre a Estação da Luz Participações (EDLP) e a MRS Logística, com o objetivo de oferecer o conceito “porta a porto” em operações de transporte, por meio da combinação dos modais ferroviário e rodoviário, terminais estrategicamente localizados (CFCCs) e tecnologia da informação.
Juntas, a EDLP, que atua no segmento de assessoria logística e transporte no Brasil, e a MRS, uma das maiores operadoras ferroviárias do País, desenvolveram um modelo de negócio que transforma o transporte de contêineres que passam pelo Porto de Santos, transpondo de forma eficiente e sustentável a Serra do Mar, barreira natural com cerca de 800 m de altitude,localizada entre a Baixada Santista e o Planalto Paulista.
A Operadora de Transporte Multimodal de Contêineres S.A., a Contrail, foi estabelecida em 2010, resultante da parceria entre a Estação da Luz Participações (EDLP) e a MRS Logística, com o objetivo de oferecer o conceito “porta a porto” em operações de transporte, por meio da combinação dos modais ferroviário e rodoviário, terminais estrategicamente localizados (CFCCs) e tecnologia da informação.
Juntas, a EDLP, que atua no segmento de assessoria logística e transporte no Brasil, e a MRS, uma das maiores operadoras ferroviárias do País, desenvolveram um modelo de negócio que transforma o transporte de contêineres que passam pelo Porto de Santos, transpondo de forma eficiente e sustentável a Serra do Mar, barreira natural com cerca de 800 m de altitude,localizada entre a Baixada Santista e o Planalto Paulista.
O conceito
logístico da Contrail se baseia na utilização dos Centros Ferroviários de
Consolidação de Carga (CFCCs), os quais permitem agrupar no mesmo trem
contêineres de diversos tipos e tamanhos, para produtos e clientes distintos.
Os CFCCs serão instalados em pontos estratégicos ao longo da linha férrea, formando
uma extensa rede de captação e distribuição de produtos em São Paulo, o que,
segundo a empresa, resulta em ganhos de escala e de capilaridade. A
implementação completa da Contrail deve ser concluída no prazo de cinco anos,
com um total de R$ 600 milhões em investimentos neste período.
A operação do
sistema também prevê a construção do primeiro hub intermodal do Brasil, o
Terminal Intermodal Porto de Santos (TIPS), localizado junto ao maior pátio
ferroviário da Baixada Santista e próximo dos terminais marítimos das margens
esquerda (Guarujá) e direita (Santos) do porto. Com 300 mil m² de área e
capacidade para movimentar até 1,2 milhão de TEUs por ano, será o maior e o
mais moderno terminal intermodal do Brasil, de acordo com a operadora.
A sigla TEU vem do
inglês Twenty-foot Equivalent Unit, que em português significa Unidade
Equivalente a Vinte Pés. O hub possibilitará o gerenciamento da movimentação de
contêineres entre os CFCCs e os terminais marítimos. Em suas instalações, o
TIPS será dividido em áreas para armazém geral, depot, e para as operações de
estufagem, desova, cross docking, pré-stacking, transbordo e de transporte.
Associada à
produtividade de movimentação gerada pelo TIPS, o modelo da Contrail introduz
no Brasil o uso de vagões do tipo double stack, que permite o empilhamento de
até dois contêineres de altura, possibilitando o carregamento de até quatro
TEUs.
Para tanto, a
AmstedMaxion, fabricante no segmento ferroviário instalada no interior
paulista, está utilizando a tecnologia da americana Greenbrier no
desenvolvimento do protótipo do vagão PentAMax, composto por cinco vagões
double-stack articulados, desenhado para transportar contêineres empilhados no
padrão ISO de 20 e 40 pés, com a bitola de 1,60 m. Carregados, os vagões terão
a altura total de seis metros em relação ao nível dos trilhos. Por isso, contam
com estrutura e componentes especiais para garantir sua estabilidade. O
PentAMax dispõe de seis truques com suspensões especialmente desenvolvidas por
meio de simulações computadorizadas dinâmicas e contínuas, além de elementos
estabilizadores laterais de contato constante e rodeiros com adaptadores
radiais. O sistema de choque e tração terá atuação diferenciada para vagão
vazio e carregado e os freios serão montados diretamente nos truques,
aumentando significativamente sua eficiência e segurança em serviço.
Conforme as
previsões da operadora multimodal, com a utilização dos vagões com dupla
capacidade, o “Trem Tipo” da MRS/Contrail, com 800 m de comprimento, terá um
incremento de até 150% no volume transportado, podendo carregar até 200 TEUs.
Além disso, segundo a Contrail, um estudo realizado nas principais ferrovias
americanas constatou que o transporte de contêineres feito por vagão double
stack emite 1/5 de carbono se comparado ao sistema rodoviário.
No ano passado, a
MRS Logística comprou sete locomotivas da fabricante suíça Stadler para operar
no trecho da Serra do Mar, por meio do sistema de cremalheira. Cada máquina tem
cerca 18 m e o motor produzido pela Traktionssysteme Áustria gera a potência de
5.000 kW (6.800 cv) e força de tração de 700 kN (71.400 kgf). Conforme a MRS,
as novas locomotivas são as mais potentes já construídas no mundo, sendo 50%
mais eficientes do que as utilizadas anteriormente, fabricadas pela Hitachi na
década de 1970. Com elas, a operadora pretende aumentar sua capacidade anual de
7 milhões de toneladas úteis para até 28 milhões de toneladas/ano, por sentido.
Trem Intercidades:
a macrointegração
Também chamado de
Trem Expresso Metropolitano (TEM) pelo governo de São Paulo, o projeto do Trem
Intercidades (TIC) consiste de uma malha ferroviária de 431 km que ligará
diversos municípios por meio de composições com velocidade média de 120 km/h, e
que podem alcançar a máxima de 160 km/h. A proposta é conectar as quatro áreas
metropolitanas do Estado incluídas na Macrometrópole Paulista, com as regiões
de São Paulo, Campinas, Santos e Vale do Paraíba, na qual se localizam 153
cidades e uma concentração de 30 milhões de habitantes. Segundo os dados
oficiais, essa macrometrópole gera 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do País e
reúne 72% da população e 80% de toda a riqueza gerada no Estado.
A ideia é utilizar
as áreas de ferrovias já existentes no eixo norte-sul, interligando Americana
até Santos, e no eixo leste-oeste, entre Sorocaba e Taubaté. As duas linhas se
cruzam na cidade de São Paulo, onde o sistema também tem a previsão de se
conectar à futura linha do TAV. De acordo com o secretário dos Transportes
Metropolitanos, Jurandir Fernandes, o projeto funcional do primeiro trecho do
Trem Intercidades está pronto e as obras devem começar até o final de 2014.
Pelo cronograma do governo, o percurso inicial de 25,4 quilômetros, que vai
interligar o ABC, deve entrar em operação em 2016. A extensão até Campinas, com
90 quilômetros, tem a construção programada para começar em 2015 e entrega em
2018. As outras linhas devem ser iniciadas em seguida, com prazo final de
conclusão previsto para 2020.
O orçamento para
interligar a Macrometrópole Paulista – o maior empreendimento privado em estudo
no País – é estimado em R$ 20 bilhões, sendo que R$ 4 bilhões virão de recursos
públicos. No final de 2012, o Conselho Gestor de PPPs do Estado de São Paulo
aprovou a Manifestação de Interesse Privado (MIP) apresentada pelo consórcio
BTG-Pactual/EDLP – que já são sócios na Contrail – para a realização do estudo
de viabilidade do sistema de Trens Intercidades. Das 13 empresas autorizadas a
fazerem os estudos, o consórcio foi o único a apresentá-los.
O projeto
também atraiu o interesse das quatro fabricantes de composições já
estabelecidas no País: Bombardier, CAF, Alstom e Siemens. Além delas, a alemã
Vossloh e a Malásia Scomi Engineering, recém-instaladas em território nacional,
também demonstraram intenções de participar do segmento de trens regionais.
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