14/04/2013 - A Gazeta (ES)
O Espírito Santo, apesar de não ter
tradição no setor industrial ligado às ferrovias, apresenta ao mercado duas
iniciativas de vanguarda: produção de dormentes de aço e transformação dos
antigos dormentes de madeira em carvão vegetal, pelas empresas Hidremec e
Recicarbon.
Prestes a comemorar a produção de 1 milhão
de dormentes, a empresa capixaba Hidremec já pensa em expansão a partir da
expectativa gerada pelo programa lançado pelo governo federal, que já definiu a
construção de 10 mil quilômetros de ferrovia. Vinda de São Paulo há oito anos,
a Hidremec se instalou em Cariacica e aumentou em três vezes a sua capacidade.
Especializada na produção de dormentes de
aço, a empresa tem capacidade para produzir 400 mil dormentes por ano. O
produto da Hidremec está sendo utilizado pela Vale para substituir os dormentes
de madeira em suas ferrovias.
Com o novo produto, a empresa quer
economizar ao utilizar um dormente com maior vida útil. “A madeira não compete
com o aço. O concorrente do aço é o concreto, que também vem substituindo a
madeira”, explica Carlos Alberto Pinto, acionista e diretor da Hidremec.
O processo de substituição dos dormentes da
Estrada de Ferro Vitória a Minas, da Vale, ainda deve durar mais dois anos. “Já
fornecemos cerca de 300 mil dormentes para a ferrovia de Carajás, no Pará e
mais de 50 mil para a FCA. O contorno de Belo Horizonte, que foi reformado pela
Vale, também já recebeu dormentes da Hidremec”, disse Carlos Alberto.
“A substituição da madeira pelo aço é
inevitável. Além de durabilidade maior, o aço pode ser reciclado, enquanto a
madeira, não. Há no Brasil, dormentes de aço que estão em uso desde 1889, o que
mostra como esse material é recomendado”, explica Carlos Alberto.
Investimento
O executivo explica que a empresa fez dois
investimentos nos últimos anos, sendo o primeiro a decisão de sair de São Paulo
para se instalar em Cariacica. O segundo passo foi investir no aperfeiçoamento
do processo de solda, agora feita por robôs em duas linhas de produção. O
investimento chegou a R$ 10 milhões.
A empresa tem 110 funcionários e a direção
tem planos para ampliar a capacidade a partir da ampliação da malha ferroviária
do país, que hoje é de 29 mil quilômetros. O governo lançou o Plano de
Investimento de Logística (PIL) que quer acrescentar 10 mil quilômetros à
malha.
Ele explica as vantagens: “Enquanto um quilômetro
de linha precisa de 1.850 dormentes de madeira – o que corresponde ao
desmatamento de 337 árvores – o mesmo quilômetro pode ser construído com 1.667
dormentes metálicos”, ressalta.
Madeira
é tratada e vira combustível
A decisão da Vale é trocar os dormentes de
madeira por outros fabricados com aço criou um problema sério: o que fazer com
a madeira utilizada anteriormente, cuja preparação envolveu o uso de produtos
tóxicos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente?
O destino de um passivo de 72 mil toneladas
de dormentes levou a Vale a uma parceria com a Recicarbon que encontrou uma
solução. Foram investidos US$ 4 milhões para chegar ao processo de extração dos
gases da madeira e sua transformação em carvão.
O processo foi patenteado e a empresa contratada
para transformar em carvão vegetal 72 mil toneladas de dormentes num período de
52 meses. Há 30 mil toneladas somente da EFVM e de outras ferrovias da Vale.
“Cada forno processa 150 toneladas de
madeira por vez”, explica um dos diretores da empresa, José Antonio Semensato.
Este volume se transforma em cerca de 50 toneladas de carvão que as
siderúrgicas utilizam para produzir ferro-gusa.
Semensato explica que o dormente de madeira
não é queimado, mas sofre a extração dos gases originados pelos produtos
químicos utilizados na preparação de madeira. São produtos como creosoto,
pentaclorofenol e outros.
A Recicarbon foi criada por cinco
ex-bancários. Instalada no distrito de Guaraná, Aracruz, a empresa espera
fechar outros contratos e ampliar sua capacidade. Os gases originados a partir
da transformação da madeira em carvão são tratados antes de lançados na
natureza.
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