21/06/2013 - Valor Econômico
A possibilidade de o Brasil ter uma fábrica
nacional de trilhos é mínima, pois o país não tem um mercado interno que
justifique a instalação de uma unidade nacional para produzir os lingotes de
aço, mesmo sob os efeitos do pacote de concessão de dez mil km de novas
ferrovias - além dos cerca de 20 mil km de malha que já é utilizada por
concessionárias. Essa é a avaliação do principal empresário do setor no país
que hoje reuniria, de fato, motivações financeiras e políticas para investir em
uma fábrica nacional de trilhos. Em entrevista ao Valor, Jorge Gerdau, que
também preside a câmara de gestão, desempenho e competitividade da Presidência
da República, disse que não há condições de montar uma estrutura que produza os
lingotes de aço no país.
Há tempos a Gerdau tem um plano na gaveta
para montar a fábrica no país. Estamos em estudos finais sobre o tema e a
verdade é muito complexa, porque a escala de um laminador moderno e competitivo
é hoje três vezes maior do que a demanda futura de trilhos no Brasil, disse
Gerdau.
Segundo o empresário, as limitações da
demanda nacional não são o único obstáculo para a empreitada. É preciso
considerar ainda o cenário internacional que hoje é enfrentado pela indústria
de siderurgia. Existe ainda um excesso fantástico de produção de trilhos no
mundo, com cerca de 500 milhões de toneladas de aço excedente. Então, dentro do
cenário siderúrgico hoje, numa transição de baixa rentabilidade, a decisão
técnica e econômica é tremendamente complexa, comentou Gerdau. Esse tema não é
do Brasil, é mundial. Há pouquíssimas fábricas no mundo, com um excesso de
produção enorme. O grande dilema hoje, ao investir em siderurgia, é ter
mercados que sustentem investimentos, não só em trilhos, mas em qualquer tipo
de produção.
Perguntado se a decisão de ter uma fábrica
nacional não deveria ser pautada, principalmente, pela orientação estratégica
de uma política nacional para o setor, Gerdau foi mais pragmático. A gente tem
a responsabilidade de manter a viabilidade econômica de uma empresa, perante
seus 140 mil acionistas. As decisões têm que ser técnicas e econômicas. Hoje o
mercado não dá uma solução para isso, disse. Temos que continuar trabalhando
sobre o assunto. Nós temos interesse de fazê-lo, mas enquanto eu não tiver uma
construção econômica viável, a ser aprovada pelo conselho que representa os
acionistas, essa proposta fica apenas em análise, comentou.
O Brasil chegou a ter operação de fábricas
de trilhos pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) até a década de 1970, mas
as instalações foram fechadas por conta do sucateamento do setor ferroviário no
país, a partir dos anos 1980.
A dependência de trilhos importados
incomoda o governo, que tratou de incluir nos editais das novas concessões de
ferrovias regras que privilegiam empresas dispostas a utilizar trilhos a serem
feitos no Brasil. São medidas que não tem nenhum efeito prático - já que não
existe produtor no país -, mas que funcionam como um aceno a potenciais
investidores.
No edital do trecho de 477 km da Ferrovia Norte-Sul
que liga Açailância (MA) a Vila do Conde (PA), foi incluída uma cláusula que
exigiria a compra de pelo menos 75% de trilhos no mercado nacional durante a
etapa de construção - e de 50% durante a manutenção da malha - em situações em
que o preço do produto no país custasse até 35% mais que o valor do produto
importado. Se ultrapassar essa margem, a empresa poderia adquirir todo o
produto onde bem entendesse. A cota de conteúdo nacional seria reduzida
anualmente, durante os 35 anos da concessão.
Dificilmente o gesto terá efeito prático,
pelo menos no curto ou médio prazo. O governo, segundo a Empresa de
Planejamento e Logística (EPL), vai licitar as ferrovias neste segundo
semestre, com início efetivo de obras previsto no ano que vem. É um prazo muito
curto para ser atendido por uma instalação no país.
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