17/06/2013 - O Globo
Depois de desenvolver logística própria
para o escoamento de seu minério de ferro, a Vale quer aproveitar o know-how
que adquiriu durante décadas para ampliar seus negócios de transporte de carga
geral, que inclui de grãos a bens industriais. O objetivo é que sua subsidiária
Valor da Logística Integrada (VLI) se dedique exclusivamente ao transporte de
mercadorias de terceiros, um filão promissor diante das deficiências no sistema
logístico nacional. O investimento estimado da nova empresa, que deverá ter até
70% de seu capital vendido a parceiros estratégicos, será de R$ 9 bilhões em
cinco anos.
Criada no fim de 2011, a VLI entrou na lista
dos ativos que seriam vendidos total ou parcialmente para que a Vale pudesse se
concentrar em segmentos prioritários, como minério de ferro e cobre. O plano
era que metade do capital da empresa fosse vendido, mas a demanda foi maior que
a imaginada. Hoje, a Vale trabalha com a possibilidade de ficar com 30% da
companhia.
Ao menos 12 empresas se mostraram
interessadas. Nos últimos dias, dirigentes da mineradora têm se debruçado sobre
o desenho societário da subsidiária para levar o projeto ao Conselho de
Administração da Vale este mês. O plano de investimentos de R$ 9 bilhões
dependerá da aprovação dos novos sócios e inclui a revitalização de ferrovias,
a compra de 230 locomotivas e 2.500 vagões, a construção de armazéns e a
ampliação de terminais portuários.
Nos planos, construção de três armazéns
Dessa forma, a Vale quer replicar o modelo
do minério de ferro, em que controla a cadeia logística da mina ao porto. No
caso da VLI, a empresa vai controlar o fluxo da carga do armazém ao porto. Do
plano de investimentos da VLI consta a construção de ao menos mais três
armazéns: um em Minas Gerais e dois em Tocantins. Hoje, a empresa administra
dois terminais integrados (onde ficam os armazéns), um deles em Araguari (MG),
inaugurado em outubro passado e com capacidade de um milhão de toneladas por
ano. Com a nova unidade, o carregamento dos trens, que era feito em três dias,
passou a levar apenas quatro horas.
— A gente costuma olhar só a ferrovia, mas
tem que otimizar as pontas também — disse Humberto Freitas, diretor executivo
de Logística e Pesquisa Mineral da Vale.
Com a aprovação da MP dos Portos mês
passado, a VLI também pretende investir nessa área. Uma das opções é o Porto de
Mearim, no Maranhão.
— A VLI vai investir em portos. Está muito
atenta à capacidade de portos no Norte. Com capacidade de cinco milhões de
toneladas de grãos, o Tegram (terminal público que está sendo erguido no Porto
de São Luís) vai aliviar esse sistema. Quando isso virar gargalo de novo, aí
está na hora de pensar no Mearim — diz Freitas.
A VLI vai concentrar suas operações em três
corredores logísticos. Um deles ligará os estados de Goiás e Maranhão. As
cargas serão transportadas pelas ferrovias Norte-Sul e Estrada de Ferro Carajás
(EFC) até um terminal no Porto de São Luis, criando uma alternativa de
escoamento para o agronegócio. Hoje, 92% das exportações de soja, por exemplo,
estão concentrados nos portos de Santos (SP) e Pananaguá (PR).
Mudança na lei pesou na estratégia
Outro corredor abrangerá os estados de
Minas Gerais e Espírito Santo, absorvendo produtos siderúrgicos e grãos. Os
trens percorrerão a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e a Estrada de Ferro
Vitória-Minas (EFVM) até o Porto de Vitória. Haverá ainda um corredor
conectando Minas Gerais e São Paulo. Nele, a FCA será usada para escoar açúcar
e grãos até o Porto de Santos. Há ainda dois corredores menores, ligando Minas
a Bahia e Minas ao Rio, que também estão nos planos da empresa.
Parte desses ativos, como a FCA e a
Ferrovia Norte-Sul, pertencia à Vale e já foi transferida para a VLI. Outros,
como a EFC e a EFVM, permaneceram sob guarda-chuva da mineradora. Caso a VLI
precise usar essas ferrovias para atender à demanda de seus clientes, isso será
feito por meio de contratos de longo prazo firmados com a holding.
A reorganização da estratégia de logística
da companhia também deve ser entendida à luz de recentes mudanças na legislação
do setor, que instituíram o direito de passagem. Este prevê que qualquer
empresa que tenha uma locomotiva possa transportar sua carga por uma ferrovia
operada por terceiros, desde que pague um “pedágio”. Potencialmente, isso
significa perda de clientes e aumento de concorrência para a Vale.
— (Reorganizamos a estratégia), primeiro,
por questão de foco. Segundo, porque estava exigindo muitos investimentos.
Terceiro, a legislação abriu essa questão de que os trens possam transitar. E
também por uma questão de transparência. O pessoal se queixava que a gente
priorizava a carga própria em relação à de terceiros — diz Freitas.
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