O exemplo que
vem da Europa será conhecido de perto em 2013 por uma comitiva da Agência de
Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que vai à
França verificar a logística e gestão do sistema de transporte, principalmente
no que se refere ao modal ferroviário. Minas Gerais tem projetos para a
retomada do metrô e do trem de passageiros e aposta na parceria público-privada
(PPP) para a construção de três linhas. A primeira liga Divinópolis, Betim, BH
e Sete Lagoas. A outra faz o caminho entre BH, Brumadinho, Águas Claras e
Eldorado (Contagem).
A terceira vai
conectar a capital a Nova Lima, Conselheiro Lafaiete e Ouro Preto.
Especialistas na área de transporte e trânsito comparam o modelo europeu com o
mineiro e apontam: nem no longo prazo será possível alcançar um patamar
parecido.
A explicação é
simples, de acordo com o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da
Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. “Não tem a ver com volume de investimentos,
de ter ou não dinheiro nem com projetos, mas com uma cultura de planejamento a
longo prazo que não temos aqui”, afirma. Ele usa o metrô de Paris como exemplo.
A primeira linha foi inaugurada em 1900 e tinha 45 quilômetros e 25 estações
(uma vez e meia a extensão do trem de BH, com 28 quilômetros). A última, a
linha 14, foi implantada em 1998.
Ineficiência
O metrô de BH
começou a ser desenhado em 1980 e tinha projeto inicial de 120 quilômetros,
chegando à Pampulha e ao Centro. Resende estava na equipe e faz uma conta para
comparar os dois sistemas, tomando como base o tempo de existência de um e
outro para calcular a velocidade de expansão. “Em 32 anos construímos 28 quilômetros,
então, se o metrô de Paris fosse o de BH, em 98 anos, teríamos 86 quilômetros
de linha”, diz. “Do contrário, se BH fosse Paris, em 32 anos, teríamos 70
quilòmetros, três vezes mais. São números incontestáveis”, aponta.
O consultor em
transporte e trânsito Osias Batista faz coro e compara o sistema de
videomonitoramento do Anel Rodoviário da capital francesa com o de BH, onde ele
é inexistente. “Eles têm ação e supervisão do sistema viário, que permite tomar
decisão em tempo real. Aqui, a polícia descobre um acidente e não consegue
chegar ao local porque está tudo congestionado”, relata.
Os números
oficiais do Brasil dão conta de 42 mil mortos por ano em estradas e vias
urbanas. Mas a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) estima
20% a 30% a mais, já que nas estatísticas são consideradas apenas as pessoas
que perderam a vida no local do acidente. “Enquanto isso, estão fazendo o
trem-bala. O Brasil não tem o feijão com arroz, mas precisa da cozinha
especial. Vamos primeiro ajustar o básico, pois não há transporte de passageiro
que preste em lugar algum”, critica.
O consultor, que
participou da criação da Metrominas em 1997, analisa o lado positivo: pela
primeira vez, se fala na retomada do trem de passageiro. “Se isso tivesse
ocorrido há 15 anos, não teríamos perdido tantos trilhos nem faixas de domínio.
O governo está tentando tirar o atraso e, por isso, é importante irem à França,
pois quem nunca viu acaba desmotivado”, ressalta.
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