Assistimos a um vídeo de1962, do Ministério da
Educação e Cultura que através do Instituto Nacional de Cinema Educativo nos
apresentou esta produção tão “singela” e curiosa cujo título: “Condenados pelo
Progresso” nos é bastante peculiar quando o assunto é ferrovia, aliás, o vídeo,
apesar de antigo, provavelmente foi bastante utilizado até os anos 90. Com
tomadas de uma localidade isolada, tenta convencer seu público alvo do abandono
ferroviário consciente e realizado para melhorar a vida da população, realmente
curioso. Não menos traumático, é a narrativa que vem “explicar” o tal abandono
consciente. Com um título tão sem sentido e coerência quanto o que sustenta o
pavilhão nacional, o vídeo foi criado, idealizado, encomendado, forjado e
esculpido (ou será cuspido?) a mais de cinco décadas, provavelmente, imagino,
pelos pais daqueles que no meio da década de noventa terminaram por destruir
por completo a RFFSA. É claro que tudo em favor do PROGRESSO tão “perseguido”
por estas terras. Não é difícil imaginar que a baixa qualidade das informações
e o modo simplificado da apresentação dos fatos relatados na produção, não
levou em conta, que em algum momento, qualquer um que viesse a assistir tal
vídeo pudesse ter a capacidade de percepção / entendimento de que tudo foi
feito para induzir a opinião. Absolutamente!
Na verdade, tinham a absoluta certeza que os
cidadãos desse país, infelizmente, em sua maioria, idiotizados e incapazes de
criticar coisa alguma, mesmo sendo algo tão explicitamente medíocre, passariam
a acreditar e tomar o relato como verdade. Não é preciso ser perito em
transportes, logística ou qualquer outra coisa para perceber que o vídeo em
questão está desenhado para induzir a opinião alheia, o que convenhamos não é
muito difícil pelo nosso país afora e até mesmo pelo mundo. Atualmente, vivemos
a era da informação, tudo em tempo real, no entanto, a quantidade de informação
é tão grande que muitos, a maioria, não as interpreta, analisa ou reflete,
entretanto, tira conclusões! Erro fatal. A informação é como uma refeição, deve
ser “cheirada”, “provada”, “mastigada” (várias vezes), “digerida”, para só
depois ser “absorvida”. Porém, para a tristeza dessa nação, quase ninguém mais
faz isso, deve ser um efeito colateral do tal progresso. Atualmente, alguns de
nós, sabemos que abdicar das ferrovias foi um equívoco que trouxe um atraso
histórico a este país em desenvolvimento, pelo menos dizem que está se
desenvolvendo, e este é um ponto crucial, apenas alguns sabem e apenas alguns
lutam por isso. A sensação do caótico nos assalta a cada passo da vida
cotidiana. Corriqueiramente vemos pessoas cujo procedimento de hoje está em
completa e absoluta contradição com o de ontem, e certamente se tornará
contraditório com o de amanhã. Indivíduos, em uma mesma frase, apresentam
convicções que a lógica aponta como incompatíveis uma com a outra. É raríssimo
encontrarmos pessoas que, ao longo de tudo quanto pensam, dizem e fazem, se
manifestam coerentes com alguns tantos princípios fundamentais.
Apreciando tal quadro, tais indivíduos podem ser divididos em três grupos
principais:
a) Uns –
os menos numerosos – compreendem, admiram e aplaudem a coerência. Por isto,
estigmatizam o ilogismo ambiente e lhe imputam os piores frutos presentes e
futuros;
b) Outros
fecham os olhos para o fato e, quando este lhes entra pelos olhos adentro,
procuram justificá-lo: a contradição seria, segundo eles, a ruptura necessária
do equilíbrio ideológico de outras eras, o efeito típico do tumultuar fecundo
das épocas de transição; por isto, ela não produz desastres senão na epiderme
da realidade, e tem de ser vista, em última análise, com benigna e sorridente
indulgência. O grupo de indivíduos que pensa deste modo já foi maior, mas com
os acontecimentos decorrentes de tal comportamento, vão rareando os que
conseguem sustentar a despreocupação risonha e benigna de outrora;
c) Nosso
terceiro grupo, é também o mais numeroso, são aqueles indivíduos que suspiram
diante da contradição caótica de nossos dias, aturdem-se... mas não passam
disso. Mudar de posição lhes parece impossível. Pois se a contradição os
assusta, por outro lado, implicam, do mais fundo de sua alma, com a coerência.
Eles gostariam de prolongar, contra ventos e marés, seu mundo agonizante que
resulta do “equilíbrio” de idéias contraditórias, as quais se “moderam” umas às
outras em amável coexistência. E como, para esse grupo, as idéias são feitas
para pairar no ar, sem relação com a realidade, não há, segundo eles, o menor
risco de que esse “equilíbrio” de contradições venha a se romper algum dia com
prejuízo para a pacata e boa ordenação dos fatos. Este grupo vive sobre
constante terror: de um lado, o caos que lhe entra como um tufão pela casa e
pela vida adentro, e de outro lado uma coerência que lhe parece correta no
plano da lógica, mas espetada, desalmada, e numa palavra, desumana.
Estarrecidos, diante da opção, os indivíduos deste grupo param. E ficam a
suspirar, de braços cruzados, na espera obstinada de alguma coisa que faça
cessar o caos, sem que se tenha que implantar o reinado da coerência.
Para
concluir, produções como esta são construídas em escala quase industrial para
todas as áreas e situações, basicamente, para os indivíduos do terceiro grupo.
Nosso caos ferroviário é um exemplo clássico da inércia de indivíduos incapazes
de sair de sua “zona de conforto” para, pelo menos, questionar as atitudes e os
atos que foram cometidos contra um patrimônio que era de todos. Hoje carregamos
o fardo do abandono às ferrovias que pôs em xeque todos aqueles que levantaram
a bandeira da destruição das mesmas, mas ainda convivemos com a mais completa
omissão de uma sociedade incapaz de observar os prejuízos que a cerca.
Texto:
Anderson Nascimento com trechos de Plínio Corrêa de Oliveira
Anderson Nascimento com trechos de Plínio Corrêa de Oliveira
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